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Este é o blog Maxsuel Xapuri, um espaço democrático onde são expostas e aceitas idéias e opiniões sobre os mais variados temas. Este espaço foi criado por vocês e para vocês, portanto, participe, acesse sempre e deixe seus comentários.



segunda-feira, 23 de abril de 2012

XAPURI – Centro Cultural e Ecológico




Ainda quando o Acre pertencia à Bolívia e chamava-se Mariscal Sucre, já apresentava relevada importância dentro da economia seringueira por sua produção e também posição geoestratégica, o que a colocava em pé de igualdade com Puerto Alonso, o gargalo onde se cobravam os impostos sobre a produção de borracha.
Para eliminar qualquer tentativa de ser apanhado em fogo cruzado e de unificação das tropas bolivianas, Plácido de Castro e seu exército seringueiro, ali acordam o Intendente Boliviano na madrugada de 6 de agosto. Não era “temprano” e tampouco “fiesta”; era uma revolução!
Colonizadas por nordestinos (cearenses em sua maioria) e comerciantes das mais variadas nacionalidades: sírio-libaneses, turcos, israelenses, espanhóis e portugueses, as terras xapurienses transformaram-se num cadinho onde o caldo cultural daí resultante, fermentou, amadureceu e gerou uma grande quantidade de pessoas ilustres. É também, a única cidade do Acre, que possui uma Banda de Música Municipal.
Durante o período das gordas vacas seringueiras, adquiriu maior importância ainda como centro econômico e cultural acreano e rivalizou com Rio Branco, pois possuía teatro, cassino e a única empresa aviadora fora de Belém e Manaus: a Limitada.
Os filhos da camada social mais abastada eram mandados a apurar sua formação intelectual e profissional em Belém, Rio de Janeiro e Europa, o que de uma forma ou de outra, sempre proporcionou intercâmbio e troca de experiências, socializando os conhecimentos adquiridos de outros locais: Jorge Kalume, Adib Jatene, Armando Nogueira, Jarbas Passarinho, Elais Meira, Euri Figueiredo, Maestro Zeca Torres, Ciulnides Ferraz, José Cláudio e José Porfiro, dentre muitos.
No final do século passado, um ousado sujeito buchudinho, de fartos bigodes e sem o refinamento intelectual dos anteriores, detona nova revolução a partir e Xapuri que muda os paradigmas da relação Homem x Natureza. Da lutade Chico Mendes e dos demais povos da floresta, restou provado que é possível, senão a convivência harmônica, pelo menos uma relação menos predatória com a natureza. É possível o desenvolvimento sobre as bases teóricas da sustentabilidade.
Desenvolveu-se, neste local, uma população altamente politizada, de bom nível cultural, pacata, ordeira, de espírito alegre e extrovertido que transparece em seus baixos índices de criminalidade. Ocorrência policial é acontecimento raro, pois as pessoas de lá preferem ocupar melhor seu tempo com o levar de suas vidas em paz e tranquilidade. Tem-se a impressão de que, lá, o tempo passa até mais lentamente.
Portanto, se alguém pretende visitá-la tendo como objetivo encontrar o agito e a algazarra de outras localidades, estará no lugar errado e poderá incomodar a seus moradores. Ali é um lugar para se livrar do “estress” da batalha pelo cotidiano. Ali,é para se recarregar as baterias! Ali, crianças ainda
brincam na rua, vizinhos e famílias se reúnem embaixo de mangueiras no quintal e o meio de transporte mais utilizado é a bicicleta.
No dia 5 de maio do ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2012, em nossa cidade, será criada a ONG Filhos e Amigos de Xapuri.
É um grupo múlti e suprapartidário esboçado ainda nos anos 90 pela tentativa de - alguns de nós que moramos em Rio Branco - retribuir e colaborar com o desenvolvimento da localidade. Por alguns problemas de estratégia e ausência de objetivos mais claros, teve curta duração. A iniciativa partiu de nossos irmãos Antonio Ferraz, Rui Sant’Ana e José Andrias.
Este embrião foi reavivado com as postagens de reminiscências no site xapurionline que resgatou histórias, fotografias, acontecimentos e os arquivou no formato eletrônico. De dentro de antigos álbuns de famílias, saltou uma enxurrada de fotografias, que com a ajuda de muitas e boas memórias, identificaram-se as pessoas fotografadas, estimaram-se e/ou precisaram-se datas e acontecimentos. Transformaram-se em documentos.
A decisão de dar identidade jurídica ao grupo, surge espontaneamente após a postagem de uma destas fotografias em que aparece a vitrine do antigo bar Ponto Chic. Em meio às trocas de informações sobre este documento, Aldenor Ferreira lança o desafio de se restaurar o Ponto Chic em sua arquitetura original. A rede energizou-se: José Porfiro, lá do Rio de Janeiro onde concluía seu doutorado opinou e já não conseguia mais dormir; ganhou, carinhosamente, o apelido de Curumim. Sim, pois, quando em Xapuri, alguém ganha um apelido, funciona como uma senha e quer dizer: “Seja bem vindo! Você é um de nós!
Foi dado início a uma pesquisa sobre outras imagens do antigo espaço, dados sobre sua cadeia dominial, dimensões, informações e projeções cartográficas. De posse deste material, assim amealhado, Carlos Afonso Ferraz, juntou todas as informações e com a ajuda de Cacá e Emerson, brindou-nos, na reunião de 7 de abril com um espetacular passeio virtual dentro das futuras instalações do novo Ponto Chic
Conforme mostrado, o Ponto Chic terá sua parte frontal restaurada à sua arquitetura original e apresentará vários ambientes a ser vivificados com atividades culturais: museu e memorial para exposição do material coletado através de postagens na página do grupo; espaço multiuso para escolas de teatro e música, oficina de artesanato, culinária e outros que sejam pensados; bar com exposição de produtos xapurienses: cajuína, licores, aluá de milho, filhós, brevidades, mariolas, queijadinhas, etc. E um salão de bailes reversível para reuniões e centro de convenções. O Velho e o novo em harmoniosa convivência.
Na mesma sincronia, tivemos o prazer de contar com as participações de Chico Pequeno, D. Vicência, Caboco da Morena, profª Deyse Salim Pinheiro e João Garrinha a discutir alternativas para Xapuri em pé de igualdade com Ofélia Valle, Débora Cristina e Clênio Monteiro e Milena Barros. No grupo, nada há de novo, apenas estamos colecionando as percepções e ideias em um único local.
O grupo se fortalece com os mais jovens, e já se percebe sua mobilização em busca de se inserir ao movimento. Desta vez, Diego Ferraz desencadeia uma campanha para resgatar a tradição das solenidades de comemoração das datas cívicas e das fanfarras escolares. Garante-se assim, a
continuidade e a sustentabilidade destes traços culturais. Sejam benvindos, “sobrinhos”!
O novo Ponto Chic deverá ser incorporado ao que se pensa denominar Circuito Turístico Cultural, que já conta com o Memorial Chico Mendes, o Museu da Casa Branca, O Museu de Xapuri, o Museu do Prezado, o Antiquário da Pousada dos Chapurys, o conjunto arquitetônico das casas comerciais das ruas 6 de agosto e 17 de novembro, a igreja Matriz, o Cemitério Boliviano, a Fonte do Bosque, as trincheiras a Revolução Acreana. É necessário dar-lhes uma configuração de conjunto e dispor de material humano qualificado para guiar nossos visitantes dentro deste roteiro. Mas para isto, em nossa cidade, o IFAC já oferece o curso de Técnico em Turismo.
Mas Xapuri também tem suas belezas cênicas inseridas no Circuito de Ecoturismo por meio do Roteiro Caminhos de Chico Mendes e já se sabe que houve expedição técnica às cabeceiras do Rio Xapuri, em pleno coração da RESEX. O grupo Filhos e Amigos de Xapuri também planeja visitá-las, guiados por Almir Santana, no mês de junho, e buscará meios de realizar o Inventário Turístico de Xapuri e também parcerias com o Ministério do Turismo e SETUL para atingir este objetivo.
Há certa urgência em tudo isto, pois as oportunidades já se materializam também através da implantação da Rodovia do Pacífico, por onde já chegaram sondagens de Agências de Turismo Peruanas. Cuzco recebe um milhão de turistas/ano, e, se estas agências conseguirem esticar seus roteiros até Xapuri e trazer 1% deles, não teremos como recebê-los e acomodá-los. Se vier 10%, talvez nem mesmo o Acre!
Por tudo o que foi levantado aqui: sua história, o estilo de vida de seu povo, as oportunidades, a distância ideal entre Xapuri e Rio Branco - o maior mercado turístico potencial mais próximo – seus traços culturais e seu ambiente de tranquilidade, é que o Grupo Filhos e Amigos de Xapuri escolheu como sua missão tornar Xapuri Centro Cultural e Ecológico reconhecido oficialmente, posto que, de fato, já o É!
É sob este guarda-chuvas do Centro Cultural-Ecológico a ser aberto após sua oficialização, que todas as melhorias na infraestrutura urbana e financiamentos dos empreendimentos turísticos encontrarão justificativa. Até a desprivatização da vista do rio Acre. Coisa que apenas os xapurienses mais jurássicos ainda lembram.
O sonho precisa ser, no mínimo, do mesmo tamanho da realidade desejada!

* Rubens Santana, o Rubinho, é xapuriense e professor aposentado da UFAC.
Email: santanarubens@hotmail.com

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Na Estrada


O músico xapuriense Paolo Almeida continua divulgando seu primeiro CD Gospel por todo o estado. Dessa vez, a apresentação será durante às comemorações dos 99 anos da cidade de Tarauacá, no dia 27 de abril.
Fica o convite aos que possam ir prestigiar, e o desejo de boa sorte e sucesso ao amigo Paolo em sua jornada.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Caminhos do Grupo "Filhos e Amigos de Xapuri"

Como já foi avisado aos amigos-leitores, continuo em fase final de preparação para prestar um concurso público, por isso o blog não vem sendo atualizado com a frequência a qual todos se acostumaram. Mesmo sem muito tempo disponível, não poderia deixar de reproduzir o texto abaixo, assinado pelo xapuriense José Porfiro da Silva.

Caminhos do grupo “Filhos e Amigos de Xapuri”

Escrito por José Porfiro da Silva
18-Abr-2012

Durante quatro anos em que estive fora do Acre, acompanhei com imensa curiosidade a troca de ideias dentro de um grupo que agora se chama “Filhos e Amigos de Xapuri”. Este grupo tem uma motivação que é alimentada por um das características intrínsecas da própria humanidade: o desejo de voltar aonde tudo começou, seja dando sobrevida às reminiscências da complicada vida real, seja procurando satisfazer indecifráveis curiosidades. É a nostalgia da terra que ficou para trás, que se manifesta de infinitas maneiras.

Já circulou informações num antigo site, denominado de “xapurionline”, no qual, além de muitas fotos, foram postados vários textos sobre Xapuri. No mesmo período, e-mails circulavam em demasia. As tecnologias impuseram novas dinâmicas. Agora, meninos, meninas, rapazes, moças, senhores e senhoras veem fotos, leem notícias e notinhas nas redes sociais. Quase todos são membros do grupo “Filhos e Amigos de Xapuri”, no facebook.

A última reunião, deste grupo, aconteceu no último dia sete, lá mesmo em Xapuri: (I) contação de causos, (II) apresentação do projeto de restauração do Ponto Chic, (III) início de formalização do grupo, etc. Infelizmente não tive o prazer de estar presente, como fizeram João Garrinha, Rubinho, dona Vicência, Antônio Ferraz, profª Deyse Pinheiro, Ofélia Valle, Dra. Diana, e muitos outros.

Mesmo assim, captamos no facebook que, dentre os causos, foram contados o (a) da revolução de Antônio Bucheiro, (b) do vandalismo na Praça Getúlio Vargas (Nencau, Décio e Ferraz arrancaram os bancos da praça e os primeiros postes da cidade). Também me disseram que tudo foi gravado. Nossa, que pessoal organizadinho.

A propósito, intrometendo-me, vou sugerir a este grupo, que no próximo ano tenha nova “contação de causos”, com a publicação de um folheto com os que foram contados este ano. Não sei contar nada, entretanto, poderei ouvir atentamente todas as novas estórias do Xapuri antigo.

Mas, o grupo não se restringe apenas em contar causos. Também foi apresentado, neste mesmo encontro, um projeto de restauração do Ponto Chic. É uma ideia que já vem sendo debatida há mais de um ano. Parece-me mais revolucionária do que a de Antônio Bucheiro.

Dentre outros detalhes desta restauração, fiquei prendido ao espaço de memórias, onde estariam alguns painéis com fotos de dezenas de xapurienses das décadas de quarenta, cinquenta e sessenta.

Como não é possível descrever todo o projeto de restauração, só este espaço de memórias incitaria muitos amigos e filhos de Xapuri a visitar aquela cidade.

Agregado ao encontro do grupo, promove-se regulamente uma quase tradicional seresta, que acontece no próprio Ponto Chic, a cargo de músicos xapurienses dos anos quarenta e cinquenta, todos ainda completamente lúcidos. Tudo indica que esta permanecera acontecendo regularmente.

Este grupo, “Filhos e Amigos de Xapuri”, deixar-me-ia muito contente se conseguisse apenas a restauração do Ponto Chic, somado com as ideias que o acompanhariam: memorial, salão de festas, etc. Claro, se está ideia se concretizar, muitos outras possibilidades se abrirão.

Interessante que todos têm consciência que é um caminho que ainda está se construindo. É bem sabido que caminhos nestas condições podem se abrirem ou se fecharem repentinamente – é a incerteza do futuro que o grupo está condenado a carregar. Além disso, ideias deste tipo são projetos coletivos.

Seus idealizadores originais necessariamente perdem inteiramente, logo de início, o controle dos desdobramentos futuros. Se isso não acontecesse, a ideia teria pouco sentido. É necessária muita gente discutindo, dialogando, participando e se fazendo presente, preferencialmente com os mesmos propósitos, quando possível; com ideias diferentes.

Isso é tão verdadeiro, que já tivemos mais de uma dezena de manifestações escritas. Lamentavelmente não podemos resgatá-las na totalidade, desde as manifestações encaminhadas por e-mail e postadas por Rubens Santana (Rubinho), no site “xapurionline”.

Fazendo uma seleção dos escritos deste movimento, podemos começar pelas notas do prof. de história, Sérgio Roberto, “Ponto Chic restaurado e democratizado”, publicado em 31-12-2011, no blog “Xapuri Agora!”.

Para Sérgio Roberto, a ideia de restauração seria algo bom, no entanto, passível de ressalvas. Para ele, historicamente, o Ponto Chic sempre foi um espaço de exclusão. Nesse sentido, sua restauração deveria ser acompanhada por ações que o tornasse democrático: “Vamos nos mobilizar para que o espaço seja restaurado, no entanto, que não se promova uma ‘assepsia’ de sujeitos sociais. [...] Revigorar o ‘Ponto Chic’ pode ser uma ótima opção, se democratizarmos o acesso ao clube.”

Embora, no final do texto, o prof. Sérgio Roberto tenha afirmado “que não é contrário a ideia, apenas fez algumas ressalvas”, confesso que não compreendi o motivo pelo qual ele levantou a questão nestes termos, num contexto que tende nitidamente noutra direção.

No mesmo blog, o prof. Carlos Estevão fez publicar, entre outras, “Reflexões sobre Xapuri”, em 12-07-2011, procurando expressar uma leitura do quadro político da cidade.

Na mesma direção, Rubens Santana, no blog “Maxsuel Xapuri”, teve a oportunidade de expor, por duas vezes, as principais idéias-força do movimento “Filhos e Amigos de Xapuri”. Em 04-01-2012, na coluna “Papo Xapuriense”, e, em 03-03-2012, no texto “Grupo ‘Filhos e Amigos de Xapuri’ se mobiliza nas redes sociais”. Nestas duas exposições – uma entrevista e um texto – podem ser encontrado as lógicas interna e externa do movimento.

Outro texto especial foi escrito por José Cláudio Mota Porfiro, nosso colega da UFAC, em 26-02-2012, com o título “Um centro cultura para Xapuri”, publicado no Jornal A Gazeta: “a ideia que norteia o projeto da construção do Centro Cultural de Xapuri tem base na revitalização do antigo Bilhar Clube e na necessidade de um uso efetivo dos espaços a partir de políticas públicas que tenham foco, principalmente, na extrema utilidade social de uma casa de cultura que tenha vida real.”

Todas estas manifestações vão moldando as ações e direções do movimento “Filhos e Amigos de Xapuri”. Todos têm a percepção de que a situação de nossa città natale não é das melhores. Por um lado, isto é um aspecto negativo, mas por outro, talvez seja um dos motivos instigadores do grupo, que por meio da nostalgia da terra que ficou para trás, procuram encontrar as justificativas para voltarem as suas origens. De toda sorte, parece que nas últimas semanas todos estão animados a continuarem caminhando.