Após amadurecer uma idéia que tive há alguns meses, apresento a todos os leitores e amigos o “Papo Xapuriense”, um quadro especial no qual eu converso, uma vez por mês, com um conterrâneo da querida princesinha. O Papo Xapuriense não é uma entrevista e sim um bom bate-papo pra falar com os convidados sobre os mais variados temas relacionados, é claro, à nossa querida Xapuri.
Pra começar com o pé direito, nesse caso a mão, tive o prazer de conversar, nos estúdios da TV aldeia em Rio Branco, com o ex-goleiro e jornalista xapuriense Leônidas Badaró. Durante aproximadamente uma hora, Badaró falou sobre futebol, política, suas paixões, carreira, lembranças e saudades dos bons tempos vividos em Xapuri. A seguir os principais trechos desse que foi um ótimo Papo Xapuriense.
Maxsuel Xapuri: Badaró, são quantos anos vivendo longe de Xapuri?
Badaró: Bem, na realidade são duas etapas, eu já tinha morado aqui em Rio Branco há alguns anos quando vim terminar meu ensino médio, nessa época morei sete anos aqui, mas não agüentei de saudades e voltei pra Xapuri. Depois disso casei, tive filho, comecei a trabalhar com comunicação lá em Xapuri e desde minha última vinda já são oito anos vivendo aqui em Rio Branco, mas sempre que posso estou indo visitar nossa cidade, só não vou mais vezes por falta de tempo. Costumo brincar que meu carro tem um dispositivo muito moderno que quer puxar o volante pra Xapuri toda sexta-feira, às vezes tenho que segurar bem firme.
Maxsuel Xapuri: Nesse tempo todo morando fora o que mais te traz saudades?
Badaró: Nada me traz mais saudades do que o futebol. O futebol xapuriense era muito bom, por tudo o que ele envolvia, o futebol me proporcionou muitas alegrias, tristezas, me deu meus melhores amigos, verdadeiros irmãos, por isso, o futebol é a coisa que me traz mais saudades de Xapuri.
Maxsuel Xapuri: E uma coisa que não te traz saudades?
Badaró: O que menos me traz saudades é a falta de perspectivas, é ver grande parte desses meus amigos perderem o rumo e seguir outros caminhos. Não sou nenhum puritano, sou adepto da boa cervejinha, adoro uma boa conversa numa mesa de bar, mas isso não pode motivar sua vida, tem que ser apenas uma opção de lazer. Infelizmente, por falta de opção, muitos amigos enveredaram por esse caminho, agente vê muito álcool e muita droga em Xapuri e a falta de perspectiva faz com que muitos de nossos amigos fiquem no meio do caminho.
Maxsuel Xapuri: Duas perguntas que não querem calar, por que Badaró e por que escolheu ser goleiro?
Badaró: Isso é uma curiosidade que muita gente não sabe. Meu nome não é Badaró. Meu nome é Leônidas Magalhães Ribeiro Filho, o mesmo nome do meu pai, o finado “pega”. O Badaró era nome de um personagem de novela da rede globo nos anos 70, esse personagem era um menino que era muito danado e meio fortinho. Como eu também não era fácil e sempre fui mais forte que a maioria dos meninos da minha época, me deram esse apelido e aí pegou. Em relação a ser goleiro, dizem que todo goleiro é um jogador de linha frustrado, eu devo ter sido, mas também tenho outra explicação, tive um problema congênito na perna no qual abriam feridas que demoravam a cicatrizar. Mesmo com a doença eu não abandonei o futebol, mas jogando na linha tinha muito contato físico e machucava muito, por isso fui pro gol e aí descobri que tinha talento. Não gosto de gabolices, mas também não gosto da falsa modéstia, por isso te digo que uma das coisas que eu fiz melhor na minha vida foi pegar no gol, morando em Xapuri nunca pensei em jogar profissionalmente, mas sei que tinha muito talento e me orgulho muito pela minha história como goleiro dentro do futebol xapuriense.
Maxsuel Xapuri: E o teu coração é Limoeiro ou Americano?
Badaró: Nenhum dos dois, por incrível que pareça. Eu me orgulho de ter disputado dez campeonatos em Xapuri e ter ganhado sete títulos, desconheço alguém que tenha ganhado mais títulos do que eu em Xapuri, mas eu nem sou americano nem limoeiro. Na realidade eu sou Brasília, porque tenho um cunhado-pai, o Almerindo, que todos em Xapuri conhecem, e tenho uma relação de pai e filho com ele, gosto dele da mesma forma que gostava do meu pai biológico e o Almerindo foi diretor do Brasília na década de 70 e 80, quando o Brasília era um dos times mais famosos de Xapuri. Aquele local onde hoje é o Mercadinho do Povo era a casa do meu pai, nos dias de jogos era lá que o Brasília se reunia para vestir o uniforme e se concentrar. Quando eu via aqueles jogadores conversando e vestindo aquele uniforme com as cores da seleção brasileira eu me encantava e aí acabei me apaixonando pelo Brasília, mas também tenho muito orgulho de ter defendido as cores do América e do Limoeiro.
Maxsuel Xapuri: Qual o melhor jogador que você viu jogar nos gramados xapurienses?
Badaró: Pergunta difícil, teve muita gente boa, mas, o Mar (Pezão), que agente chamava de “MarMota”, foi um dos melhores que eu já vi jogar. O talento que o Mar tinha, a classe, o toque de bola, a forma com que ele cobrava as faltas, parecia muito com o estilo do Zico, que sempre foi meu ídolo no futebol, o Mar era aquele camisa 10 clássico, elegante, então eu o considero o melhor que eu vi jogar, se não foi o melhor foi o que mais me encantou. Eu tive o prazer de jogar com o Mar no final da carreira dele e, nos treinamentos, de dez faltas que ele batia nove eu ficava parado só olhando, em uma eu pulava na bola, mas ela também entrava.
Maxsuel Xapuri: Você foi jogador do Limoeiro e viveu o esporte xapuriense bem de perto. Gostaria que falasse um pouco da importância do João Simão para o nosso futebol.
Badaró: Agente sempre brinca muito quando se fala no João Simão, o Sabiá, por todo o folclore que o cerca, mas a verdade é que eu acho que Xapuri é muito injusta com o seu João, nunca vi nenhum tipo de homenagem pra essa pessoa que dedicou a sua vida ao limoeiro e ao futebol xapuriense. O seu João amava o futebol e quem dera se o Acre tivesse outros Sabiás, acho que estamos precisando de mais figuras como ele em todos os municípios do Acre, inclusive em Xapuri, para que nosso futebol volte a ser como era antes, pois hoje perderam aquele romantismo pelo futebol, não existe mais o amor à camisa. Lembro que quando fui jogar no América e, vestido com aquela camisa, ouvi as mulheres da família Mota gritando meu nome, foi difícil segurar a emoção, hoje não existe mais isso, agora pros jogadores tanto faz.
Maxsuel Xapuri: Vamos sair um pouco do campo esportivo. Quando você vai à Xapuri hoje como vê a cidade?
Badaró: Bom meu amigo Suel, não costumo fugir de nenhum assunto e não vai ser hoje que vou fugir. Quando vou à Xapuri volto de lá entristecido. Acho que Xapuri não está sabendo aproveitar o nome que construiu e os talentos que tem. A sociedade xapuriense está acomodada, se acostumou a se contentar com o “menos ruim”, parou de discutir o que é melhor pra cidade, parou de sonhar. Temos tido tragédias ao longo dos últimos anos, como é o caso, por exemplo, da administração do Vanderlei Viana, uma pessoa que tem uma série de problemas e que transformou a cidade num caos. Hoje em dia isso melhorou um pouco, mas na parte de investimentos e infra-estrutura ainda falta muito, digo isso porque conheço quase todos os municípios do Acre e vejo que Xapuri é uma das cidades com menos investimentos, uma das cidades menos bem cuidada, acho que faltam condições financeiras e humanas, gente para ajudar o prefeito, que é uma pessoa séria, de bom caráter, mas que tem tido muitas dificuldades. Parece-me que existe boa vontade, disposição, seriedade, mas faltam condições humanas, gente qualificada para fazer bons projetos, gente que saiba onde e como procurar os recursos financeiros para que as ações, principalmente de infra-estrutura, sejam realizadas.
Maxsuel Xapuri: Ano que vem é ano de eleições municipais, fala-se nas candidaturas de Marcinho Miranda, Éden, Oséas e na tentativa de reeleição do Bira. Como você analisa esse cenário político pro ano que vem?
Badaró: É uma situação difícil de analisar. Primeiro, porque ainda faltam um ano e meio pro fim da administração do Bira, muita coisa ainda pode acontecer e se a frente popular quiser continuar com o mandato precisa trabalhar de forma mais consistente na cidade, realizando principalmente boas e importantes obras de infra-estrutura. Também vejo com preocupação alguns nomes que surgem, nomes de pessoas com nenhuma experiência administrativa, que caso forem eleitas ninguém sabe no que pode dar. Em minha opinião, o que falta em Xapuri não é um nome e sim planejamento, agente não vê um projeto político consistente, discutido com a sociedade, com a comunidade. Xapuri não precisa de um grande gestor, um grande técnico, nem de grandes projetos. Xapuri precisa de alguém que cuide das pessoas, dos pequenos problemas da cidade. Um dos principais problemas da administração do Júlio Barbosa, por exemplo, foi querer cuidar de grandes projetos, sem se preocupar com as pequenas coisas como o calçamento das ruas, as opções de lazer e oportunidades de trabalho. Precisamos de alguém que conheça a cidade, conheça as pessoas, conheça os problemas do dia-a-dia, alguém que não seja influenciado apenas pelas questões político-partidárias.
Maxsuel Xapuri: Como você enxerga o constante aumento do tráfico de drogas em Xapuri?
Badaró: Acho que isso se deve à falta de opções, falta de oportunidade. É muito fácil você apontar o dedo pra alguém e dizer que esse alguém caiu no mundo das drogas porque não presta, mas a falta de opção leva as pessoas ao desespero. É preciso criar políticas públicas que possam casar o talento xapuriense com a potencialidade que o município possui, não adianta os possíveis candidatos que agente já citou falarem que é preciso criar empregos, disso todos sabem, a questão é de que forma essas vagas serão criadas. Como é que você vai dar emprego sem conseguir atrair novos investimentos para a cidade? Como é que você vai criar empregos sem conseguir dar condições para que o comércio xapuriense cresça? Todo mundo promete emprego, eu quero ver é demonstrar de que forma esses empregos serão criados. Emprego é igual dinheiro, não se cria de uma hora pra outra, se não houver planejamento não haverá emprego e nossa juventude vai continuar sem opção e agente vai ficar cada vez mais triste com o envolvimento dos nossos jovens com o tráfico de drogas.
Maxsuel Xapuri: Já se comentou pelas vielas xapurienses o nome de Leônidas Badaró para a prefeitura de Xapuri. O que você tem a dizer sobre isso?
Badaró: Isso pra mim é novidade. Eu nunca falei isso publicamente, apenas algumas pessoas próximas a mim sabem disso, mas eu nunca neguei que tenho muita vontade de ajudar Xapuri, não preciso de Xapuri para viver, tenho minha carreira e meu nome no jornalismo acreano, mas não nego que tenho sim essa vontade. Nunca discuti isso com nenhum partido, mas nunca foi uma opção que descartei, pelo contrário, acho que pelo amor que tenho à Xapuri e pelo conhecimento dos problemas das pessoas, essa não é uma opção que eu descartaria.
Maxsuel Xapuri: E como é que está a vida em Rio Branco?
Badaró: A vida tá boa. Consegui muito rápido conquistar o meu espaço dentro do jornalismo acreano, comecei em Xapuri, na Rádio Educadora 06 de Agosto, onde tem outro ótimo blogueiro que é meu amigo-irmão Raimari Cardoso. Depois dessa primeira experiência vim pra Rio Branco e graças a Deus conquistei meu espaço, fui diretor de jornalismo da Difusora Acreana e hoje sou diretor de jornalismo e de esporte da TV Aldeia. Adoro trabalhar com o sistema público de comunicação e também tem a coisa do esporte, narrar futebol é o que mais gosto de fazer e me orgulho muito do trabalho que realizo. Umas das maiores emoções da minha vida aconteceu no ano passado quando fui narrar o jogo Rio Branco e Fortaleza no Castelão, além de narrar o jogo da cabine da globo de lá, ao fim do jogo o diretor da TV Globo de Fortaleza se aproximou de mim e me elogiou dizendo que nunca poderia imaginar que no Acre havia tanto talento. Hoje a coisa que mais me completa profissionalmente é narrar futebol.
Maxsuel Xapuri: Badaró, pra finalizar, gostaria que você deixasse uma mensagem pros nossos irmãos xapurienses.
Badaró: A mensagem que eu gostaria de deixar é que agente tem que acreditar que é capaz, não podemos nos contentar com o que é menos ruim, o povo de Xapuri não pode se acomodar. Temos que buscar sempre mais e mais, na vida familiar, na vida profissional, enfim, as pessoas em Xapuri precisam voltar a discutir, não a política partidária, isso agente deixa pros candidatos, mas voltar a discutir a cidade de Xapuri, os caminhos que devemos seguir e isso agente pode discutir no banco da praça, na mesa de um bar e em espaços como o seu blog. A minha mensagem é para que as pessoas não deixem de sonhar, porque o sonho coletivo acaba se tornando o sonho da cidade e se as pessoas se acomodam, não sonham, não tomam iniciativas, a cidade não cresce.
Leônidas Badaró é jornalista, tem 36 anos, atualmente é diretor de jornalismo e esportes da TV Aldeia. Segundo ele próprio, é um xapuriense apaixonado por sua cidade e possui muitas paixões, entre elas, seus filhos, o futebol e o Flamengo.
Pra começar com o pé direito, nesse caso a mão, tive o prazer de conversar, nos estúdios da TV aldeia em Rio Branco, com o ex-goleiro e jornalista xapuriense Leônidas Badaró. Durante aproximadamente uma hora, Badaró falou sobre futebol, política, suas paixões, carreira, lembranças e saudades dos bons tempos vividos em Xapuri. A seguir os principais trechos desse que foi um ótimo Papo Xapuriense.
Maxsuel Xapuri: Badaró, são quantos anos vivendo longe de Xapuri?
Badaró: Bem, na realidade são duas etapas, eu já tinha morado aqui em Rio Branco há alguns anos quando vim terminar meu ensino médio, nessa época morei sete anos aqui, mas não agüentei de saudades e voltei pra Xapuri. Depois disso casei, tive filho, comecei a trabalhar com comunicação lá em Xapuri e desde minha última vinda já são oito anos vivendo aqui em Rio Branco, mas sempre que posso estou indo visitar nossa cidade, só não vou mais vezes por falta de tempo. Costumo brincar que meu carro tem um dispositivo muito moderno que quer puxar o volante pra Xapuri toda sexta-feira, às vezes tenho que segurar bem firme.
Maxsuel Xapuri: Nesse tempo todo morando fora o que mais te traz saudades?
Badaró: Nada me traz mais saudades do que o futebol. O futebol xapuriense era muito bom, por tudo o que ele envolvia, o futebol me proporcionou muitas alegrias, tristezas, me deu meus melhores amigos, verdadeiros irmãos, por isso, o futebol é a coisa que me traz mais saudades de Xapuri.
Maxsuel Xapuri: E uma coisa que não te traz saudades?
Badaró: O que menos me traz saudades é a falta de perspectivas, é ver grande parte desses meus amigos perderem o rumo e seguir outros caminhos. Não sou nenhum puritano, sou adepto da boa cervejinha, adoro uma boa conversa numa mesa de bar, mas isso não pode motivar sua vida, tem que ser apenas uma opção de lazer. Infelizmente, por falta de opção, muitos amigos enveredaram por esse caminho, agente vê muito álcool e muita droga em Xapuri e a falta de perspectiva faz com que muitos de nossos amigos fiquem no meio do caminho.
Maxsuel Xapuri: Duas perguntas que não querem calar, por que Badaró e por que escolheu ser goleiro?
Badaró: Isso é uma curiosidade que muita gente não sabe. Meu nome não é Badaró. Meu nome é Leônidas Magalhães Ribeiro Filho, o mesmo nome do meu pai, o finado “pega”. O Badaró era nome de um personagem de novela da rede globo nos anos 70, esse personagem era um menino que era muito danado e meio fortinho. Como eu também não era fácil e sempre fui mais forte que a maioria dos meninos da minha época, me deram esse apelido e aí pegou. Em relação a ser goleiro, dizem que todo goleiro é um jogador de linha frustrado, eu devo ter sido, mas também tenho outra explicação, tive um problema congênito na perna no qual abriam feridas que demoravam a cicatrizar. Mesmo com a doença eu não abandonei o futebol, mas jogando na linha tinha muito contato físico e machucava muito, por isso fui pro gol e aí descobri que tinha talento. Não gosto de gabolices, mas também não gosto da falsa modéstia, por isso te digo que uma das coisas que eu fiz melhor na minha vida foi pegar no gol, morando em Xapuri nunca pensei em jogar profissionalmente, mas sei que tinha muito talento e me orgulho muito pela minha história como goleiro dentro do futebol xapuriense.
Maxsuel Xapuri: E o teu coração é Limoeiro ou Americano?
Badaró: Nenhum dos dois, por incrível que pareça. Eu me orgulho de ter disputado dez campeonatos em Xapuri e ter ganhado sete títulos, desconheço alguém que tenha ganhado mais títulos do que eu em Xapuri, mas eu nem sou americano nem limoeiro. Na realidade eu sou Brasília, porque tenho um cunhado-pai, o Almerindo, que todos em Xapuri conhecem, e tenho uma relação de pai e filho com ele, gosto dele da mesma forma que gostava do meu pai biológico e o Almerindo foi diretor do Brasília na década de 70 e 80, quando o Brasília era um dos times mais famosos de Xapuri. Aquele local onde hoje é o Mercadinho do Povo era a casa do meu pai, nos dias de jogos era lá que o Brasília se reunia para vestir o uniforme e se concentrar. Quando eu via aqueles jogadores conversando e vestindo aquele uniforme com as cores da seleção brasileira eu me encantava e aí acabei me apaixonando pelo Brasília, mas também tenho muito orgulho de ter defendido as cores do América e do Limoeiro.
Maxsuel Xapuri: Qual o melhor jogador que você viu jogar nos gramados xapurienses?
Badaró: Pergunta difícil, teve muita gente boa, mas, o Mar (Pezão), que agente chamava de “MarMota”, foi um dos melhores que eu já vi jogar. O talento que o Mar tinha, a classe, o toque de bola, a forma com que ele cobrava as faltas, parecia muito com o estilo do Zico, que sempre foi meu ídolo no futebol, o Mar era aquele camisa 10 clássico, elegante, então eu o considero o melhor que eu vi jogar, se não foi o melhor foi o que mais me encantou. Eu tive o prazer de jogar com o Mar no final da carreira dele e, nos treinamentos, de dez faltas que ele batia nove eu ficava parado só olhando, em uma eu pulava na bola, mas ela também entrava.
Maxsuel Xapuri: Você foi jogador do Limoeiro e viveu o esporte xapuriense bem de perto. Gostaria que falasse um pouco da importância do João Simão para o nosso futebol.
Badaró: Agente sempre brinca muito quando se fala no João Simão, o Sabiá, por todo o folclore que o cerca, mas a verdade é que eu acho que Xapuri é muito injusta com o seu João, nunca vi nenhum tipo de homenagem pra essa pessoa que dedicou a sua vida ao limoeiro e ao futebol xapuriense. O seu João amava o futebol e quem dera se o Acre tivesse outros Sabiás, acho que estamos precisando de mais figuras como ele em todos os municípios do Acre, inclusive em Xapuri, para que nosso futebol volte a ser como era antes, pois hoje perderam aquele romantismo pelo futebol, não existe mais o amor à camisa. Lembro que quando fui jogar no América e, vestido com aquela camisa, ouvi as mulheres da família Mota gritando meu nome, foi difícil segurar a emoção, hoje não existe mais isso, agora pros jogadores tanto faz.
Maxsuel Xapuri: Vamos sair um pouco do campo esportivo. Quando você vai à Xapuri hoje como vê a cidade?
Badaró: Bom meu amigo Suel, não costumo fugir de nenhum assunto e não vai ser hoje que vou fugir. Quando vou à Xapuri volto de lá entristecido. Acho que Xapuri não está sabendo aproveitar o nome que construiu e os talentos que tem. A sociedade xapuriense está acomodada, se acostumou a se contentar com o “menos ruim”, parou de discutir o que é melhor pra cidade, parou de sonhar. Temos tido tragédias ao longo dos últimos anos, como é o caso, por exemplo, da administração do Vanderlei Viana, uma pessoa que tem uma série de problemas e que transformou a cidade num caos. Hoje em dia isso melhorou um pouco, mas na parte de investimentos e infra-estrutura ainda falta muito, digo isso porque conheço quase todos os municípios do Acre e vejo que Xapuri é uma das cidades com menos investimentos, uma das cidades menos bem cuidada, acho que faltam condições financeiras e humanas, gente para ajudar o prefeito, que é uma pessoa séria, de bom caráter, mas que tem tido muitas dificuldades. Parece-me que existe boa vontade, disposição, seriedade, mas faltam condições humanas, gente qualificada para fazer bons projetos, gente que saiba onde e como procurar os recursos financeiros para que as ações, principalmente de infra-estrutura, sejam realizadas.
Maxsuel Xapuri: Ano que vem é ano de eleições municipais, fala-se nas candidaturas de Marcinho Miranda, Éden, Oséas e na tentativa de reeleição do Bira. Como você analisa esse cenário político pro ano que vem?
Badaró: É uma situação difícil de analisar. Primeiro, porque ainda faltam um ano e meio pro fim da administração do Bira, muita coisa ainda pode acontecer e se a frente popular quiser continuar com o mandato precisa trabalhar de forma mais consistente na cidade, realizando principalmente boas e importantes obras de infra-estrutura. Também vejo com preocupação alguns nomes que surgem, nomes de pessoas com nenhuma experiência administrativa, que caso forem eleitas ninguém sabe no que pode dar. Em minha opinião, o que falta em Xapuri não é um nome e sim planejamento, agente não vê um projeto político consistente, discutido com a sociedade, com a comunidade. Xapuri não precisa de um grande gestor, um grande técnico, nem de grandes projetos. Xapuri precisa de alguém que cuide das pessoas, dos pequenos problemas da cidade. Um dos principais problemas da administração do Júlio Barbosa, por exemplo, foi querer cuidar de grandes projetos, sem se preocupar com as pequenas coisas como o calçamento das ruas, as opções de lazer e oportunidades de trabalho. Precisamos de alguém que conheça a cidade, conheça as pessoas, conheça os problemas do dia-a-dia, alguém que não seja influenciado apenas pelas questões político-partidárias.
Maxsuel Xapuri: Como você enxerga o constante aumento do tráfico de drogas em Xapuri?
Badaró: Acho que isso se deve à falta de opções, falta de oportunidade. É muito fácil você apontar o dedo pra alguém e dizer que esse alguém caiu no mundo das drogas porque não presta, mas a falta de opção leva as pessoas ao desespero. É preciso criar políticas públicas que possam casar o talento xapuriense com a potencialidade que o município possui, não adianta os possíveis candidatos que agente já citou falarem que é preciso criar empregos, disso todos sabem, a questão é de que forma essas vagas serão criadas. Como é que você vai dar emprego sem conseguir atrair novos investimentos para a cidade? Como é que você vai criar empregos sem conseguir dar condições para que o comércio xapuriense cresça? Todo mundo promete emprego, eu quero ver é demonstrar de que forma esses empregos serão criados. Emprego é igual dinheiro, não se cria de uma hora pra outra, se não houver planejamento não haverá emprego e nossa juventude vai continuar sem opção e agente vai ficar cada vez mais triste com o envolvimento dos nossos jovens com o tráfico de drogas.
Maxsuel Xapuri: Já se comentou pelas vielas xapurienses o nome de Leônidas Badaró para a prefeitura de Xapuri. O que você tem a dizer sobre isso?
Badaró: Isso pra mim é novidade. Eu nunca falei isso publicamente, apenas algumas pessoas próximas a mim sabem disso, mas eu nunca neguei que tenho muita vontade de ajudar Xapuri, não preciso de Xapuri para viver, tenho minha carreira e meu nome no jornalismo acreano, mas não nego que tenho sim essa vontade. Nunca discuti isso com nenhum partido, mas nunca foi uma opção que descartei, pelo contrário, acho que pelo amor que tenho à Xapuri e pelo conhecimento dos problemas das pessoas, essa não é uma opção que eu descartaria.
Maxsuel Xapuri: E como é que está a vida em Rio Branco?
Badaró: A vida tá boa. Consegui muito rápido conquistar o meu espaço dentro do jornalismo acreano, comecei em Xapuri, na Rádio Educadora 06 de Agosto, onde tem outro ótimo blogueiro que é meu amigo-irmão Raimari Cardoso. Depois dessa primeira experiência vim pra Rio Branco e graças a Deus conquistei meu espaço, fui diretor de jornalismo da Difusora Acreana e hoje sou diretor de jornalismo e de esporte da TV Aldeia. Adoro trabalhar com o sistema público de comunicação e também tem a coisa do esporte, narrar futebol é o que mais gosto de fazer e me orgulho muito do trabalho que realizo. Umas das maiores emoções da minha vida aconteceu no ano passado quando fui narrar o jogo Rio Branco e Fortaleza no Castelão, além de narrar o jogo da cabine da globo de lá, ao fim do jogo o diretor da TV Globo de Fortaleza se aproximou de mim e me elogiou dizendo que nunca poderia imaginar que no Acre havia tanto talento. Hoje a coisa que mais me completa profissionalmente é narrar futebol.
Maxsuel Xapuri: Badaró, pra finalizar, gostaria que você deixasse uma mensagem pros nossos irmãos xapurienses.
Badaró: A mensagem que eu gostaria de deixar é que agente tem que acreditar que é capaz, não podemos nos contentar com o que é menos ruim, o povo de Xapuri não pode se acomodar. Temos que buscar sempre mais e mais, na vida familiar, na vida profissional, enfim, as pessoas em Xapuri precisam voltar a discutir, não a política partidária, isso agente deixa pros candidatos, mas voltar a discutir a cidade de Xapuri, os caminhos que devemos seguir e isso agente pode discutir no banco da praça, na mesa de um bar e em espaços como o seu blog. A minha mensagem é para que as pessoas não deixem de sonhar, porque o sonho coletivo acaba se tornando o sonho da cidade e se as pessoas se acomodam, não sonham, não tomam iniciativas, a cidade não cresce.
Leônidas Badaró é jornalista, tem 36 anos, atualmente é diretor de jornalismo e esportes da TV Aldeia. Segundo ele próprio, é um xapuriense apaixonado por sua cidade e possui muitas paixões, entre elas, seus filhos, o futebol e o Flamengo.