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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Papo Xapuriense


Assim como prometido, mesmo que com um dia de atraso, esta edição do papo xapuriense traz o professor universitário Carlos Estevão Ferreira Castelo.

Acompanhe abaixo os principais trechos do papo:

Maxsuel: A tua tese de doutorado é voltada a Xapuri?

Carlos: Sim, surgiu a oportunidade de fazer esse doutorado pela USP, que é uma universidade conceituadíssima do Brasil e eu resolvi fazer, mesmo não estando na minha zona de conforto, afinal, sou economista e o doutorado é na área de História, mas tenho estudado bastante e nesse início de trabalho já tenho levantado muita coisa boa. Estou trabalhando com entrevistas de história oral, com ênfase nas histórias de vida, meu interesse é mostrar o que mudou no modo de vida dos seringueiros nesse período após a morte de Chico Mendes. Ainda estou na fase de levantamento de dados, mas já tenho identificado coisas bem interessantes, como os hábitos de consumo, por exemplo, todos os seringueiros com quem conversei querem ter uma moto, uma antena parabólica, é o chamado desejo de cidade.

Maxsuel: Já que começamos falando sobre histórias de vida, gostaria que você falasse um pouco sobre sua trajetória.

Carlos: Bem, nasci em Xapuri e sempre estudei no Divina Providência, até o primeiro ano do segundo grau, quando me mudei pra Rio Branco para terminar o segundo grau e me preparar para entrar na universidade. Da minha turma do segundo grau a grande maioria queria entrar na universidade no curso de economia e eu fui no embalo, fiz o vestibular pra economia e passei, pra surpresa de todos, inclusive da minha família que queria que eu fosse médico. No início não me identifiquei com o curso, mas aos poucos fui gostando, naquela época os professores do curso participavam muito da reflexão sobre o desenvolvimento do estado e eu comecei a achar interessante todos aqueles debates políticos e econômicos, esquerda contra direita e aí consegui concluir o curso. Assim que terminei a graduação surgiu um concurso para professor substituto da UFAC, eu fiz e passei. Um ano depois abriu um novo concurso, dessa vez para professor efetivo, aí eu já estava gostando da economia e mais do que isso: da educação, isso é o que me motivava e me motiva até hoje, essa questão do ensino-aprendizagem, da educação me interessa e me motiva muito, mais até do que a pesquisa. Depois de aprovado como professor efetivo, estava na hora do mestrado e aí fiz a seleção para o mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina e passei, foi uma experiência muito válida, estudei muito sobre gestão empresarial, engenharia econômica e comecei a estudar sobre um tema que estava na moda naquele tempo que era o Empreendedorismo, tinha até decidido fazer meu doutorado sobre esse tema, mas acabou não dando certo por que tive que assumir a coordenação do curso de economia, o que não foi muito bom pra mim. Depois de dois anos saí da coordenação e continuo na UFAC como professor. Na verdade sempre trabalhei como professor e pesquisador, mas como no mestrado estudei muito sobre engenharia de produção, tive contato e estudei um pouco sobre ferramentas de gestão empresarial, que são muito utilizadas principalmente por indústrias, por isso comecei a ser chamado para dar palestras e consultorias nessa área, mas o que eu gosto mesmo é da sala de aula, lá é onde me sinto mais à vontade.

Maxsuel: E quando você chega a Xapuri hoje, com toda essa bagagem técnica e teórica, como enxerga a cidade?

Carlos: Olha, eu tenho uma ligação com Xapuri muito grande, boa parte da minha família mora lá e eu sempre estou em Xapuri. As pessoas podem não me ver muito por lá, mas é por que fico mais em casa, não sou muito de sair à noite, mas tenho um vínculo muito forte com Xapuri, tanto que por todos os lugares do Brasil que eu ando, todos os colegas me chamam logo de xapuriense, lá vem o xapuriense...(risos). E por essa ligação eu sempre tive algo dentro de mim que queria fazer alguma coisa por Xapuri, mas algo concreto, e tive a oportunidade de fazer agora com essa orientação aos alunos do curso de economia. Dos professores efetivos do curso, apenas dois ou três toparam participar do projeto e eu fui um deles, só porque era Xapuri. Eu já tinha tentado ajudar antes, participando do grupo que o Rubinho criou, o "Filhos e amigos de Xapuri”, mas por alguns motivos esse grupo não foi adiante e aí eu queria de alguma forma retribuir alguma coisa pra Xapuri, essa orientação me deu essa sensação de poder ajudar Xapuri. Sobre a situação atual, acho que faltam iniciativas e participação popular, se ficar esperando que o prefeito A ou B resolva sozinho os problemas da cidade, a coisa não anda, tem que haver mais interesse da população, mais envolvimento nas decisões sobre o futuro que queremos para nossa cidade, que futuro nós queremos? Acho também que estamos tendo uma oportunidade única que inclusive já está passando, que são os governos da Frente Popular, esses governos poderiam ter sido mais aproveitados pelas pessoas que administraram Xapuri, o cavalo está passando celado e nós não montamos e estamos o deixando passar. Outra coisa que gostaria de citar é o modelo de gestão, vejo muito gerencialismo, enquanto que a gestão social é deixada de lado. O gerencialismo consiste em levar ferramentas do setor privado para dentro da administração pública, pode até ser interessante, mas as pessoas acabam esquecendo que um cidadão é muito maior do que um cliente satisfeito. No Acre o gerencialismo se tornou muito forte, tanto é que se criou a figura do Gestor Público, o governo financia para seus assessores cursos de gestão de projetos, enfim, só ferramentas utilizadas na gestão privada, enquanto a participação popular é esquecida. Em Xapuri seria muito interessante abrir as decisões sobre a cidade para a população, porque quando você envolve a população você compromete as pessoas, mas é abrir de verdade, abrir o orçamento, mostrar quanto o município tem e decidir junto com o povo onde esses recursos serão investidos. Eu sou muito cuidadoso em relação a criticar as administrações, apontar soluções, dizer que o caminho certo é esse ou aquele, acho que isso é um processo de construção que tem que ser discutido por toda a população de Xapuri.

Maxsuel: Certa vez vi uma frase sua no twitter que dizia algo sobre Xapuri receber royalties do governo do estado. Como seria isso?

Carlos: É uma brincadeira que fiz (risos), mas uma brincadeira com muito sentido. Se você pegar os projetos elaborados pelos governos da Frente Popular, que foram enviados ao Banco Mundial e a outras instituições de crédito com o fim de receber financiamentos, você vai notar uma evidência muito forte, evidência é algo que se repete e essa evidência é o nome de Xapuri e o nome de Chico Mendes. O governo se utilizou em larga escala desses dois nomes para conseguir atrair muito dinheiro para o Acre, nem acho que isso seja errado, é legítimo, só acho que muito pouco desse dinheiro foi direcionado para Xapuri, muita pouca coisa, por isso que falei que deveriam pagar royalties pra Xapuri pelo tanto que ela teve seu nome explorado para trazer dinheiro pro Acre. Aí é onde entra a falta de iniciativa, faltou um pouco de coragem dos nossos gestores pra bater na mesa e cobrar do governo mais investimento, mais recursos, apresentar projetos, afinal, nosso nome pode ser usado, mas nossos problemas também precisam ser resolvidos, e uma coisa é certa: Dinheiro tem. Nessa perspectiva, acho que os governos da Frente Popular poderiam ter olhado com mais carinho para Xapuri, principalmente o governo Binho, que eu acho que não foi nada generoso com nossa cidade.

Maxsuel: E o cenário político? Se a Frente Popular sair do poder “o cavalo” terá passado de vez?

Carlos: Independentemente do partido A ou B, do candidato A ou B, acho que o que importa é ter iniciativa e participação popular. Capacidade técnica é importante sim, mas é preciso também ter capacidade política, não adianta ser doutor em gestão e não reunir outros elementos fundamentais. Ouço as pessoas falando: “o Angelim é técnico, o Bira é um bom técnico", só isso não adianta. Claro que não adianta também ser desprovido de qualquer conhecimento técnico, tem que saber unir as coisas. O Lula, por exemplo, não era um técnico, mas conseguiu reunir uma boa equipe para fazer as coisas acontecerem. Então, um prefeito que tenha iniciativa, capacidade de trabalho e que envolva a população pode fazer Xapuri avançar muito. Com a população comprometida, unida, brigando junto, não teria acontecido, por exemplo, o que aconteceu na época do Vanderlei, quando o governo do estado virou as costas pro município. Se naquela ocasião o povo tivesse envolvido não teria permitido aquilo, teria ido pra BR e fechado aquele acesso pra Brasiléia. Mas o que acontece é que a população fica esperando que o prefeito resolva, que o governador resolva. A sociedade precisa se tornar protagonista nas decisões da cidade. A primeira coisa que eu acho que um prefeito deveria fazer quando eleito em Xapuri, era chamar todo mundo, lotar o ginásio coberto e perguntar pro povo: que cidade nós queremos? que futuro nós queremos? estabelecer uma visão de futuro e chamar a população pra trabalhar juntos, assim você teria força pra chegar em qualquer governador e exigir os royalties, por exemplo, ou a ponte da Sibéria, aí sim você teria legitimidade e força política pra e pedir e cobrar.

Maxsuel: Falando em ponte, será que sai?

Carlos: Acho difícil. Ainda não parei pra pensar e formar uma opinião sobre a construção dessa ponte, mas já li que algumas figuras importantes como o senador Jorge Viana e a Marina Silva têm posicionamento contrário a essa construção. Não sei o que o governador pensa, não sei se já estudaram os impactos ambientais que essa ponte pode causar, o certo é que se permitirem o tráfego de caminhões pesados naquela área, isso pode trazer problemas, principalmente com desmatamento. Independentemente do que digam os governantes e políticos sobre essa ponte, eu fico com a fala de um morador daquela área, lá de dentro, que em uma entrevista me disse: “essa ponte, meu filho, vai tirar o meu sossego”, percebi nessa frase muita sabedoria. É claro que o bairro da Sibéria seria muito beneficiado, afinal, dez horas da noite não tem mais catraia e se você tiver uma crise de saúde, por exemplo, você não tem como atravessar para ir ao hospital. Essa questão tem que ser estudada a fundo, eu particularmente ainda não tenho uma opinião formada sobre esse assunto.

Maxsuel: Você acaba de orientar uma turma de jovens economistas xapurienses. Como você analisa o ensino superior em Xapuri e as políticas voltadas para a juventude?

Carlos: Os cursos de nível superior, mesmo com todos os problemas são válidos. Se eu pudesse dar um conselho para um jovem xapuriense, eu diria: estude, a educação é importante em todos os momentos, inclusive para aprender a pensar de forma crítica, a educação é a chave de tudo. A juventude de Xapuri tem me preocupado muito, a cada vez que vou lá fico impressionado com algumas coisas que vejo. Vai lá ao Mirantes depois da meia noite pra você ver, o cenário é preocupante: alcoolismo, prostituição e drogas. Acho que os gestores deveriam olhar com mais carinho para essa questão. Xapuri tem um nome muito forte, poderia usar melhor o nome que tem para dar mais opções de lazer e cultura para sua juventude. A vida é feita de escolhas e se o poder público não proporcionar opções para que os jovens possam fazer as melhores escolhas, eles vão acabar escolhendo o caminho errado, o ambiente tem conspirar a favor, precisam ser criadas novas opções para a juventude, algo diferente da mesmice das boates e dos carnavais fora de época, por exemplo.

Carlos Estevão Ferreira Castelo é professor universitário, xapuriense, filho do seu Estevão Castelo e da dona Aurélia Ferreira. Mesmo sendo meu primo legítimo, só tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente no dia deste papo xapuriense. Como pode ser percebido ao longo do papo, Carlos Estevão é um sujeito de idéias esclarecidas, com ampla bagagem teórica e cultural.

Percebi nele apenas um devaneio : É torcedor apaixonado do Botafogo.

2 comentários:

  1. Não falei que o papo seria interessante???? cabra de boas ideias, de caráter e apaixonado por Xapuri.
    Um abraço do primo, que pelos deveres cotidianos convive com o "baratinha" bem menos do que gostaria.

    Leônidas Badaró

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  2. Valeu Badaró. Obrigado pelo carinho demostrado.

    Carlos

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