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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

“A PRAÇA É DO POVO, COMO O CÉU É DO CONDOR”

Recebi na manhã de hoje um twitte do conterrâneo e primo, Carlos Estevão, com o artigo abaixo. Carlos Estevão é professor universitário e um xapuriense de nascimento e coração. Para os mais novos, ele é filho de dona Aurélia e seu Estevão Castelo, da loja Casa Castelo.

Carlos Estevão Ferreira Castelo*

O cinemanovista Glauber Rocha, comentando sobre sua espetacular obra “Terra em Transe”, certa vez escreveu que seu filme, lançado em 1967, tratava do que existe de grotesco, horroroso e pobre na América Latina. Afirmou, em livro, que a obra não apresentava personagens positivos, não era um filme de heróis perfeitos, que continha conflito, miséria, e a podridão do subdesenvolvimento. Neste filme, Glauber é bastante duro com a intelectualidade de esquerda, extremamente duro. Inclusive, essa parece ser uma das maiores mensagens que se pode apreender vendo “Terra em Transe”. Glauber Rocha foi duro com os intelectuais que transitavam e se aliavam com o empresariado, crítico com a intelectualidade que mantinha relações complicadas com políticos, etc. Relações essas que, na maioria das vezes implicavam (sempre implicarão), em claros prejuízos para a população.
Para muitos, Glauber era de esquerda e, mesmo assim, criticou duramente a esquerda em “Terra em Transe”. A película, mesmo trazendo em seu bojo a necessidade de mudanças sociais, de transformação da sociedade, na verdade é um convite à autocrítica. Então, influenciado pelo filme de Glauber Rocha, que revi recentemente, faço, nesse texto, um convite a Administração “Todos por Xapuri”: Companheiros, não seria o momento de fazer uma autocrítica?
Como o leitor pode perceber, iniciei o texto antecipando o seu final, como no filme de Glauber, onde o personagem principal morre nas primeiras cenas. Mas vamos aos fatos, e motivos, de um novo artigo sobre Xapuri, “a velha princesa que virou plebéia”.
Recentemente, motivado por um depoimento, lido em um post do Blog do Altino, prestado por D. Carmem Veloso, postei um pequeno comentário. Achei que sua frase sintetizava, de forma espetacular, o imaginário de muitos xapurienses (de que “xapuri estava uma merda”), mesmo não concordando com a frase. Comentário esse repercutido pelo competente jornalista xapuriense Raimari Cardoso, em seu Blog. Meu Deus. A partir de então a “coisa começou a feder”. Não “a merda”, mas as reflexões que apontei.
Xapurienses se manifestaram, alguns publicamente, outros não. Até ai tudo bem, esse era mesmo o objetivo. Minha caixa de mensagens lotou de e-mails não muito polidos. Então, atendendo solicitação de familiares resolvi que não mais escreveria sobre Xapuri, ou melhor, sobre nada que tivesse relação com a administração atual da cidade. Para não provocar ruídos desnecessários. Administração essa, diga-se de passagem, que me tornei apoiador de primeira hora.
Entretanto, quebro a promessa feita, com esse texto. Faço isso, motivado pelo artigo do Assessor de Divulgação Social da Prefeitura de Xapuri, Sr. Haroldo Sarkis. Em seu artigo, o assessor aponta que alguns (me sentir incluído), “... a pretexto de defender a terra onde nasceram...” apresentaram “...opiniões grosseiras e irônicas”... utilizando “...expressões que, além de vulgares, são negativas e preconceituosas...” Claramente, o texto de Haroldo Sarkis é uma “resposta” a meus comentários, e de outros. No meu caso, isso fica muito claro quando o autor utiliza a expressão “já teve”, exatamente um dos tópicos que apontei no post/comentário sobre D. Carmem.
Mas até ai tudo bem. Nada contra o assessor destacar “o lado” da Prefeitura. Afinal, ele está sendo pago para isso. Entretanto, as palavras “não foram bem colocadas”. Na medida em que eu, e outros tantos xapurienses, fomos tachados de grosseiros, irônicos, vulgares e preconceituosos. Por isso, é necessário um contraponto. Afinal, se a ditadura ainda sobrevive através de vários aspectos, resta a todos nós combatê-la.
Dessa forma, inicio historiando minha “relação” com a administração xapuriense do tempo presente, bem como os motivos que tive para escrever os comentários “polêmicos”. Em seguida, destaco alguns pontos dos argumentos de Haroldo, para, no final, como Glauber faz em “Terra em Transe”, retornar ao inicio, já antecipado. Ou seja, convidando “Todos por Xapuri” a uma reflexão critica. Para isso, utilizo algumas expectativas que tinha da administração, e que não vi realizadas.
Como Haroldo é sabedor, fui apoiador de primeira hora da Administração atual. Votei em Ubiracy Vasconcelos e, sendo assim, ajudei a colocá-lo na Prefeitura. Fiz isso por acreditar que era o melhor nome, naquele momento histórico, para Xapuri. Após a eleição, cheguei a colaborar diretamente com a administração, mesmo que rapidamente. A participação se deu a título de colaboração, em um Planejamento Estratégico realizado pelo Prefeito 100 dias após ter assumido o cargo. Fui além, me manifestei publicamente em 15 de maio de 2009, no post publicado no “Xapuri agora” com o título “Sobre Xapuri”. No texto, dialoguei com comentários que “rolavam” na cidade relacionados com a “fraca equipe técnica montada pelo Prefeito”. Cheguei a afirmar: “...o que vi em Xapuri é um pessoal com grande capacidade de trabalho, muita humildade e vontade de querer aprender, e isso, para mim, é muito mais importante do que especialistas”.
Ainda em 2009, influenciado pelo bom xapuriense Rubinho, comecei a participar de alguns encontros com um grupo denominado “filhos e amigos de Xapuri”. Com o objetivo de planejar como poderíamos (os membros do grupo) colaborar com a gestão “Todos por Xapuri”, de forma voluntária, é claro. Entretanto, a idéia não andou. Para alguns, por falta de iniciativa do próprio Prefeito que viu no grupo “pretensões políticas”. Já para outros, a “coisa não andou” por problemas do próprio grupo (de agenda, de disponibilidade, etc). Então, “esqueci” Xapuri e passei a me dedicar a outras metas. Como se fosse possível esquecer a velha princesa.
Em 2010, no final do ano, a UFAC me convoca para orientar os alunos de Economia de Xapuri. Estavam concluindo suas monografias e necessitavam de Professor orientador. Prontamente atendi o pedido, mesmo sem condições objetivas. Aceitei somente porque eram alunos de minha terra. Vi ali uma maneira de contribuir com a cidade. Foi então que os temas dos trabalhos, as idas frequentes até a cidade para conversar com os alunos, a mania de perguntador e observador que costumo ter, etc., começaram a disparar elementos internos.
Imediatamente voltei a pensar no futuro da velha princesa, pensar sobre seus problemas, possíveis soluções, etc. Confesso que, até então, somente acompanhava, de longe, o que acontecia. Não de muito longe, acompanhava da Capital da “florestania”, Rio Branco. O meio principal era os blogs. Esse fato (de não está vivendo em Xapuri), para alguns, significa que eu não teria crédito para criticar a administração. Eu aceito o argumento, mas não concordo.
Já em 2011, em uma das visitas aos alunos, aproveitei para realizar entrevistas informais com populares para tentar “sentir melhor o clima”. Também para coletar informações preliminares para meu projeto de tese de doutoramento, que trata dos “Modos de vida de seringueiros de Xapuri em anos de florestania”. Ou seja, precisava “acerta as contas” sobre o que ouvia de minha terra, aqui na Capital. Tinha curiosidade de verificar, “de forma mais cientifica”, o que lia nos blogs, principalmente nas redações de Eden Mota. Então, como bom pesquisador, deixei os sujeitos sociais falarem. E eles falaram.
Foi com base nos depoimentos que coletei que escrevi os comentários citados no inicio (aqueles do post sobre D. Carmem). Na verdade, somente falei o que ouvi de xapurienses, sem criticar muito os depoimentos, confesso. Apenas reproduzi o consenso das falas. Para os estatísticos de plantão, informo que entrevistei 30 pessoas. Mas os adultos detestam ouvir coisas que não os agradam, principalmente adultos políticos com mandatos.
Como já assinalado, havia decidido não meter mais “minha mão naquela cumbuca”, mas, aos 45 do segundo, aparece o texto de Haroldo. O autor “entra rachando”, mostrando “as travas da chuteira”. Penso que foi infeliz. Poderia, simplesmente, mostrar as realizações da Prefeitura, como bem fez, mas decidiu “ser mais realista do que o rei”. Devo anotar que, no primeiro texto publicado pelo autor, feito em seu próprio blog, o “Xapuri em Destaque”, é possível verificar modificações no título e conteúdo. Comparativamente ao texto do “Xapuri Agora”.
Bem, sobre o “já teve”, diria para Haroldo que foi o “sentimento” mais presente nos depoimentos colhidos em Xapuri. Portanto, foi a população que demonstrou, e não eu. Os depoentes apresentaram uma espécie de saudosismo, uma nostalgia de tempos passados, de coisas que hoje não existe mais. É bem possível que os depoimentos, por terem sido feitos por adultos com mais de 30 anos, tenham influenciado nesse consenso. Penso que os mais velhos, na maioria das vezes, costumam falar que bom mesmo era “nos seus tempos”. Principalmente quando o tempo presente não está “lá grandes coisas”.
Comigo é assim também. Futebol bom era o de 82, de Zico e cia, o do “meu tempo”, tempos verdes onde jogava pelada no campinho do Colégio Divina Providência sonhando ser o Renato Sá, do Botafogo. “Futebol mesmo tinha Xapuri na época de Ivonaldo, e seu Brasília...”. Com certeza, para Haroldo, o bom é o “seu tempo”. Isso é legitimo e natural. Entretanto, mesmo Haroldo não concordando com o sentimento do “já teve”, penso que se trata de uma valiosa pista, dada por populares, que poderia ser considerada como objeto de reflexão da administração atual. Mas é só o que eu penso. Quem disse que estou certo.
Outro ponto que gostaria de destacar foi uma afirmação sobre drogas e prostituição em Xapuri, de crianças. Nessa questão especifica, devo informar que se trata de afirmação. Afirmação que sustento onde for necessário. Dessa forma, não tem relação com os depoimentos que colhi. Eu presenciei. Ao “vivo e a cores”.
Os depoentes falaram do “já teve” com bastante intensidade, falaram ainda sobre a economia comercial – para muitos falida devido a ZOFRA Boliviana, e, também, sobre uma certa falta de iniciativa do Prefeito. Mas nada informaram sobre drogas e prostituição. Ia esquecendo, falaram também sobre os empregos gerados pelas “fábricas” (de piso e camisinhas). Nesse caso especifico (dos empregos), ponderei nos comentários que preferiria esperar pelos dados das monografias dos alunos de Economia. Portanto, penso que em momento algum fui preconceituoso, irônico, ou coisa parecida. Mesmo assim aceito, e respeito, a opinião do Assessor, mesmo sem concordar. Pergunto: o que vi na “balada xapuriense”, onde crianças se drogavam com drogas legais e ilegais, também não mereceria reflexão de “Todos por Xapuri”?
Acho que conheço a maioria das realizações da Prefeitura, as mesmas que lista o autor em seu texto. Como disse, desde o final de 2010 venho acompanhado, “mais de perto”, o que acontece em Xapuri. Isso devido minhas atividades como orientador dos alunos de Economia, como já apontei. Entretanto, afirmo: é muito pouco, companheiro. Muito pouco para uma administração do mesmo partido político do Governo Federal e do Estadual.
O sentimento que muitas vezes tenho, principalmente quando estou em Xapuri, é que “a cidade” está perdendo o “bonde da história”, que um cavalo selado está passando na porta e não estão conseguindo montá-lo. Mas posso está completamente errado. Sinceramente, torço para que Haroldo esteja certo. Não no palavreado que utilizou comigo e outros, mas na certeza do caminho.
Em outros pontos de seu texto, Haroldo fala de administrações anteriores. Concordo que “dizimaram” a cidade. Para mim é bastante claro que os problemas maiores de Xapuri são explicados pelas desastrosas administrações anteriores. Foram péssimos, realmente. Mas o Candidato que virou Prefeito sabia disso. Sabia o que encontraria. Então, se topou o desafio...
Imagino as dificuldades que teve para “deixar a casa em ordem”. Pelo pouco que vi no planejamento estratégico, a coisa tava “mesmo complicada”. Mas acho que tiveram tempo suficiente. Tanto tiveram, que penso ser o maior mérito de “Bira” o fato de ter conseguido “arrumar a casa”.
Mas não posso deixar de falar que mais iniciativa faltou, e falta. Mais proatividade. Por exemplo: “Todos por Xapuri” deveria exigir, vou repetir, exigir, do Governo do Estado tratamento diferenciado para a cidade. Talvez isso esteja no imaginário da população, daí a necessidade de uma reflexão crítica. Em certo momento escrevi no blog do Altino comentando um post: “os xapurienses deveriam cobrar royalties, todas as vezes que o Governo do Estado utilizar, nas justificativas dos projetos de financiamentos, o nome da cidade de Xapuri, dos seringueiros de Xapuri, de Chico Mendes”. Penso que a “florestania” deve muito a cidade de Xapuri, principalmente ao povo xapuriense. Não deveriam retribuir com um pouco mais de intensidade?
Como eu vibraria se tivesse visto o Prefeito de Xapuri dentro das Secretarias Estaduais chateando os Secretários (alguns da Gestão Binho, eram/são xapurienses, da gema. O que eles fizeram por Xapuri? Não deveriam ser mais cobrados?). Como seria bom ter visto o Prefeito “batendo na mesa do Governador” (com respeito é claro), e exigindo dias melhores para os conterrâneos de Chico Mendes (como demorou para fecharem o buraco na rua em frente da casa de Chico).
Ter presenciado com mais intensidade o Prefeito viajando para Brasília, com bons projetos em baixo do braço, buscando investimentos em Ministérios e outras Organizações. Nesses locais é onde possivelmente se encontra dinheiro para realizar “as coisas”, inclusive dinheiro a “fundo perdido”. E a cobrança sistemática a Deputados e Senadores, foi realizada?
Tem dias que fico a pensar sobre quantas vezes representantes da administração xapuriense foram até a sede da SUFRAMA, buscando viabilizar investimentos? Quantas vezes conversaram com o Banco da Amazônia e CEF? Eles (Bancos) gostam de financiar, também a fundo perdido, projetos culturais e de pesquisas. Mas só quando provocados.
Quantas vezes técnicos da Prefeitura de Xapuri participaram do Plano Plurianual do SEBRAE? organização que tem tanto dinheiro que muitas vezes nem sabe onde gastar. Quantos projetos de Xapuri estão em carteira do BNDES? Organização que chegou a colocar um escritório dentro da SEPLAN/AC para atender o setor público acreano. Quantos convênios foram feitos com a EMBRAPA? Ou mesmo com a UFAC? Em todas as organizações citadas, era, e é possível, ainda, encontrar xapurienses que, com certeza, estariam dispostos a colaborar. Mas repito, somente quando provocados. Sem querer comparar Xapuri “perante outros municípios acreanos" (mas já comparando), a Prefeita de Brasiléia teve ação diferenciada.
Bem, são alguns pontos que poderiam servir como matéria-prima para a autocrítica sugerida.
Penso que a administração xapuriense optou pelo caminho do “gerencialismo capenga”, quando, na minha visão, poderia adotar uma gestão mais social. Cheguei a sugerir isso, em artigo. Na época exagerei, propondo “uma gestão societal radical”. Inclusive, a palavra radical gerou criticas. Criticas boas, do bom Dr. Eduardo, vizinho aqui na capital e velho concorrente nas partidas de ping-pong de Xapuri de meus verdes anos. Penso que diferentemente da falácia do gerencialismo, que transforma cidadão em cliente, uma gestão verdadeiramente participativa, com envolvimento total da população, poderia ter sido uma alternativa interresante e inovadora. Mas, de novo, posso está totalmente equivocado.
Acho que ainda “é tempo”. Não sou negativista como insinua Haroldo. Por isso sugiro uma reflexão critica sobre o que está acontecendo. Reflexão sobre o porquê de tantos comentários que desagradam; sobre o que está por trás da reportagem que a TV Gazeta fez recentemente, etc. Reflexão feita, poderia contribuir para melhores resultados, em um próximo mandato da administração “Todos por Xapuri”. Digo mais resultados, pois penso que a administração atual possui muitos méritos. E o principal é ter colocado as “coisas em ordem”. De minha parte, estarei sempre disposto.
Finalizo dizendo que estou parando por aqui com comentários sobre a administração xapuriense atual. Simplesmente por ter mais o que fazer na vida. Entretanto, volto a afirmar: diante dos nomes que se apresentam até então, não tenho a mínima dúvida que votaria, de novo, em “Bira” para Prefeito.

Um abraço a todos.

*Carlos Estevão Ferreira Castelo, é xapuriense.

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